[♀]Matemática na Veia 2007-2016 O Blog do Estudante Inteligente
Pensamento bem diferente, se comparado ao do “filósofo” do Reich, Martin Bormann(1900 - ?), que nos anos dourados do Nazismo afirmava que a Alemanha venceria a guerra e o Nacional-Socialismo iria eliminar da face da terra os “mais fracos”. Tal discurso foi feito por Bormann na cidade de Nuremberg, que posteriormente seria o palco de um dos maiores julgamentos de toda a história. Na ocasião, estavam presentes os principais homens do partido: Hitler, Goebbels, Himmler, Goering, Keithel, Jodl, entre outros: “(...) os inferiores trabalharão para nós. Quando não precisarmos mais deles, poderão morrer. Por conseguinte, não há necessidade de vaciná-los segundo as leis sanitárias. Não queremos prole inferior. Que usem anticoncepcionais ou que provoquem abortos. A educação é perigosa, nada de filosofias ou matemáticas. Quando muito uma educação profissional que possa ser de utilidade para o nosso Reich de mil anos. Nós somos os senhores, nós somos os donos.” (2)
Vamos agora deixar de lado a bancarrota “intelectual” Nacional-Socialista. O foco do nosso trabalho será a História da Matemática no referido período. Enquanto algumas disciplinas, como a Geografia, a Medicina e a Antropologia, se prestaram facilmente à nazificação, a Matemática pareceu uma perspectiva medíocre para exploração ou colaboração. A política de demissões viu a partida de muitos matemáticos para a Inglaterra e para os Estados Unidos. Em 1934, o ministro da educação, B. Rust, perguntou ao notável matemático David Hilbert (1862-1943), o quanto que Gottingen, antes um dos centros mundiais da matemática, sofrera após o afastamento dos matemáticos judeus. A resposta foi: “Sofreu? Não sofreu, Sr.Ministro. Não existe mais.” (3) Apesar disso, um matemático de prestígio na Alemanha, Ludwig Bieberbach (1886-1982), deu o melhor de si para alinhar sua disciplina com o nazismo.
As ideias de Bieberbach sobre a matemática alemã baseavam-se numa teoria proposta pelo psicólogo e antropólogo Erich R. Jaensch (1883-1940), apresentando várias ligações entre psicologia e tipos raciais. Ele achava que os judeus e franceses tinham mais tendência para a abstração que para a verdade de realidades empíricas concretas e intuição nórdica. A matemática nazista exigia uma dimensão mais “tangível” que se pudesse visualizar claramente, mesmo quando se referia ao que denominamos matemática pura. Em “A realidade da matemática alemã”, escrito em janeiro de 1936, um espírito irmão matemático nazista, o professor Erhard Tornier (1894-1982) afirmava: “É justificada toda teoria em matemática pura que seja capaz de responder de forma verdadeira a perguntas concretas sobre objetos reais(...) Se não, tais teorias são um documento de obscurecimento judeu liberalista, nascido do intelecto de artistas sem raízes, que fazem escamoteações com intangíveis definições para simular criatividade matemática destinada à sua platéia cativa, incapaz de pensar, que fica satisfeita se consegue lentamente aprender alguns truques”(5).
Embora Bieberbach arengasse constantemente sobre o tema da expressão racial da matemática, ele parecia incapaz de articular uma descrição adequada do que isso significava. Em uma reunião da Academia de Ciência da Prússia em 1934, afirmou que: “a matemática é uma poderosa manifestação de características populares (...) talvez isso seja menos evidente do que é nos estilos artísticos, pois os trabalhos da matemática não podem ser tão prontamente apreendidos numa simples olhada.”(6)
Os homens da “Matemática Nazista” estavam empenhados em ver a disciplina tomar seu lugar ao lado de outras, como a Física e a Higiene Racial: temiam que a matemática fosse deixada para trás por sua fama de “neutra” e “internacional”
notas
(2) Martin Bormann apud J.J.Heydecker e J.Leeb. p.177.
(3) David Hilbert apud John Cornwell. Os cientistas de Hitler. p.177.
(4) G.H.Hardy apud John Cornwell.p.179.
(5) E.Tornier apud John Cornwell. p.180
(6) L.Bieberbach apud John Cornwell. p.180.
HEYDECKER,JJ. e J.LEEB. O julgamento de Nuremberg. Trad: Jaime M.L.Melo. Rio de Janeiro, Editorial Ibis, 1968.
LEACH,B. Estado- maior alemão. Trad: Edmond Jorge. Rio de Janeiro, Renes, 1975.
STEINER,J.F. Treblinka. 6ª edição. Trad: Christiano M.Oiticica. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, [S.D]
STRUIK,D.J. História concisa das matemáticas. Trad: João Cosme Guerreiro. Lisboa, Gradiva,1987.
Erick Crisafuli
Nascido em Barbacena/MG – Especialista em matemática e estatística pela Universidade Federal de Lavras/MG. Mestre em História da Ciência Pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo com pesquisa em História da Estatística e da Matemática Atuarial, sendo orientado pelo Prof.Dr.Ubiratan D’Ambrosio. Faz parte do grupo de História da educação matemática e de Etnomatemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, tendo como responsável o Prof.Dr.Ubiratan D’Ambrósio.
e-mail: ecrisafuli@yahoo.com.br
Barbacena -MG
(Está autorizada a reprodução deste texto. Solicita-se que a fonte seja mencionada e linkada).
Observação:
Cara, parabéns pelo blog! Muito bom mesmo! Sou professor de História e blogueiro convicto e parabenizo também a matéria sobre a Matemática do Reich. Já posso dizer que sou um assinante do sou blog e um eterno divulgador. Grande abraço! É com gestos assim que construímos um grande país.
ResponderExcluirEstou sinceramente feliz por pessoas que usam a Web para no contemplar com fatos historicos da maior importancia, como algo sobre matematica.
ResponderExcluirFiquei tão entusiasmado com este Blog que até ja postei artigos deste no http://musicaematematica.blogspot.com dando os devido creditos claro.
Parabéns!! pela iniciativa tanto do blegueiro quanto da prof de historia que comentou.
Estou sinceramente feliz por pessoas que usam a Web para no contemplar com fatos historicos da maior importancia, como algo sobre matematica.
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Fico feliz con os comentários de qualidade feitos pelos professores de história e matemática.
ResponderExcluirÉ muito bom saber que existem outros professores determinados em divulgar seus conhecimentos aqui na blogosfera.
Parabéns para vocês também.